Twisted City Lights

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Tim Burton's Corpse Bride

Categoria: Cinema, Filmes


CORPSE BRIDE (2005) Classificação: 7/10
A Noiva Cadáver
Site Oficial
IMDb

Este talvez fosse o filme sobre o qual me tinha despertado mais curiosidade nos últimos tempos. Há já algum tempo esperava que este filme chegasse a Portugal. O Corpse Bride estreou na América por volta do Halloween, época ideal para o género de filme. Na minha opinião, a época natalícia também se adequa e se enquadra perfeitamente no filme.

Trata-se pois de um dos melhores filmes de animação de 2005, este Corpse Bride de Tim Burton. Um must, imperdível, com o selo e marca de qualidade de do realizador norte-americano. Neste filme, é mais uma vez abordada em primeiro plano a temática da morte, do lado escuro e obscuro da vida, tão “acariciada” por Tim burton, como nos filmes Edward Scissorhands, Sleepy Hollow, Beetlejuice e o Nightmare Before Christmas.

Este último, à semelhança do Corpse Bride, foi realizado pela técnica de “stop-motion” que constitui apenas pelo seu processo um trabalho moroso e árduo. Dizem que para cada 2 segundos de filme, foi preciso um dia! O “stop-motion”, é portanto uma técnica com alguns anos, cada vez menos utilizada, mas não totalmente em desuso. Pelo contrário, o “stop-motion” é usada pelos puristas quase como uma reacção ao surgimento de novas técnicas, nomeadamente as animações feitas por computador e que desde que apareceram (Toy Story, ostentado pela Disney como o 1º do género) ganharam cada vez mais terreno e constituem agora quase como ferramenta indispensável à realização de um filme de animação. Quase ao mesmo tempo que Corpse Bride saiu um filme das mais famosa série de filme de animação de stop-motion: Wallace and Grommit.

Em Corpse Bride somos transportados para a sociedade conservadora do século XIV. Victor Van Dort (voz de Johnny Depp, o actor inseparável de Burton), um filho de uma família burguesa de novos-ricos está destinado a casar-se com uma rapariga que não conhece, Victoria Everglot (Emily Watson), de uma família nobre e de linhagem, mas que está na falência. Trata-se pois, de um casamento por conveniência. No entanto, Victor e Victoria (tão sugestivos que são os nomes em conjunto!) acabam por se apaixonar. As coisas complicam-se quando, ao treinar os seus votos, Victor faz com que uma jovem mulher falecida, se erga da sua sepultura assumindo que Victor está a casar com ela. A Noiva Cadáver (interpretada por Helena Bonham Carter), não quer pois aceitar o mal-entendido e é quando eu devo parar de falar, para que quem não viu o filme, o faça para saber o resto da história.

A morte é portanto o tema que domina o filme. Somos transportados para o sub-mundo, o mundo dos mortos, e é dado-nos a conhecer esse outro lado. Porém, para nosso grande espanto, o mundo dos mortos é alegre e cheio de cor, contrastando, com um mundo dos vivos muito mais sombrio, frio e sem cor. Isto é muito bem conseguido, sublimemente, como a maior parte dos aspectos deste filme. As cores, a luz e a sombra conjugam-se para tornarem este filme inigualável. A qualidade da animação é talvez a melhor particularidade de Corpse Bride. As personagens adquirem uma dinâmica única onde é fácil esquecer que não passam de imagens que foram montadas como um puzzle peça a peça. Se não fosse pelos raros pormenores que denunciam essa técnica, poderíamos facilmente esquecer-nos de como foi feito, através do “stop-motion”, ou seja imagem a imagem. A fluidez dos movimentos, a perfeição dos cenários e a credibilidade das personagens, fazem parecer que de que trata de um comum filme de animação. Conseguimos perceber, como foi tudo meticulosamente preparado para dar a sensação de que tudo aquilo é real.

Isto nada seria possível sem as vozes que dão vida às personagens. Contando com a participação de excelentes actores, existem falas e diálogos que não se esquecem. Lembro-me agora – e parece que ainda estou a ouvir – da voz profunda e penetrante, de pronúncia pesada e tom ameaçador do Pastor Galswells, interpretado pelo Christopher Lee, decretando a Victor: “You shall now your vows!” Inesquecével é também a cena em que a Corpse Bride retira de dentro da sua cabeça uma minhoca, gracejando “Ops! Muggots…”

Ao bom estilo de Burton, Corpse Bride, é um filme delicioso, muito espirituoso, sempre com o seu toque de humor negro, com cenários burlescos, e personagens caricatas e pitorescas. E se por um lado a morte é abordada, o amor não é menos importante. Afinal, trata-se também de uma história de dois amantes, afastados um pelo outro, pelo que podemos chamar de morte, se é que a Noiva Cadáver, ou Corpse Bride, simbolizasse isso (o que não me parece). O filme, acaba por se bastante trágico e triste, evidenciando-se esse facto no final.

Sinceramente, estava à espera de melhor. Uma história mais complexa e cativante, com um final talvez diferente. O filme é curto (76 minutos),o que se compreende para quem demora um dia a fazer 2 segundos de filme!, e que explica o facto de não se poder contar uma história com um enredo mais intrincado.

A banda sonora é boa, as músicas são adequadas ao filme, e não são massadoras, embora não sejam nenhuma obra-prima. Se bem que o tema principal é engraçado, e são interessantíssimas as duas cenas com o Victor a tocar piano. Este aspecto da banda sonora ficou ao encargo do conceituado Danny Elfman (outro inseparável de Burton) que foi o responsável pelas bandas sonoras da maior parte dos filmes de Tim Burton, como Sleepy Hollow, Beetlejuice, o próprio Nightmare Before Christmas, Edward Scisor Hands, e também Pee Wee's Big Adventure e Charlie and the Chocolate Factory, ou ainda outros filmes de outros realizadores como Man In Black e talvez o mais famoso, Mission: Impossible. Isto foi só um aparte, pois tenho sempre muita curiosidade e interesse pelas bandas sonoras.

No final, voltando ao filme, e para resumir, reafirmo o que disse no início: Corpse Bride merece o título de melhor filme de animação do ano. Uma peça distinta e agradável.